"As crianças também são... seres vivos"

Quarta-feira, 15 de Agosto de 2012, 01:25h

Muitos adultos, idosos ou até adolescentes se esquecem que já foram crianças, mesmo que muitos desejassem voltar à idade das apanhadas, escondidas, joelhos esfolados e “macacos” devorados. Talvez por isso mesmo sintam inveja por estes demónios de metro a metro e meio.
Qual não é o meu espanto quando reparo, enquanto me encontro na masmorra psicológica que é a sala de espera, num póster de “conselhos de crianças para os pais” e sinto o sangue a correr-me de novo nas veias.

O texto começa com o seguinte ponto: “Não me dês tudo aquilo que eu peço”. Opa, maravilha, é pena não ter tirado uma fotografia para depois poder mostrar aos meus putos que por causa deles não lhes posso dar o raio do jogo que eles querem. Este parece um conselho mais apropriado para os tios e tias da Beloura e Cascais, mas pelo caminho que este país está a ir qualquer torna-se em: “Podes dar-me pelo menos uma das 724 coisas que pedi?”.

Prosseguimos para o segundo ponto: “Não me grites” que numa primeira leitura me deixou um pouco confuso – se não o posso gritar, como é que o chamo quando ele estiver longe?

O terceiro conselho dado é: “Não me dês ordens” o que por si só me parece uma ordem. Contudo, considero este um óptimo conselho. Quando temos um miúdo que constantemente pega nos pratos e nos copos e os atira para o chão, um gesto vale sempre mais que mil palavras.

A seguir ao ponto: “Não me compares com ninguém, especialmente o meu irmão ou irmã” temos aquele que diz “Não me digas mentiras nem me peças que o faça por ti”. Este já não me parece tanto uma boa ideia. Quando confrontado pela pergunta “Papá, de onde vêm os bebés?” o pai responder “Estás a ver a tua mãe? Cresceste-lhe na barriga como aqueles aliens no filme que te mostrei e depois és cuspido da tua mãe, mas pela…” não me parece lá muito bem…

Passamos ao próximo: “Trata-me com a mesma afabilidade e cordialidade com que tratas os teus amigos”. Bem, eu quando estou com os meus amigos trato-os por insultos, questiono-lhes a orientação sexual, bebo bebidas alcoólicas, entre outras coisas. Se as crianças o pedem…

Agora temos uma das minhas preferidas: “Não me digas para fazer uma coisa quando tu não a fazes”, logo, se temos o raio do puto a mijar pelas paredes e pelo chão, nem pensar em dizer-lhe para o fazer no penico. E pedir-lhe para fazer os trabalhos de casa? Também está fora de questão. Até mesmo obrigá-lo a ir às aulas.

Outra das minhas preferidas: “Quando faço algo de mal, mão me exijas que te diga o porquê e porque fiz.” Uma joia, este conselho. Eu próprio sempre censurei aqueles pais que perguntam aos filhos o porquê, o porque fizeram, a razão por terem feito, o sentido de escolherem fazê-lo e o significado da sua acção, mas mesmo assim apenas o porquê e o porque fizeram parece desnecessário. Trata-se de senso comum. Porém, este ponto faz-me querer cada vez mais que isto se trata de um complô das crianças contra os pais. “Se fizermos algo de mal, não perguntem porquê, está bem? Nem detalhes”? Que diabo andam as crianças a fazer?!

Isto tudo termina com o seguinte conselho: ”Finalmente ama-me e diz-mo. Eu gosto de te ouvir dizer, embora não aches necessário dizer-mo.” E é por isto que peço ao leitor para fazer uma experiência. Releia bem este último ponto, bem como todos os anteriores, mas leia-os não como se fossem conselhos de crianças aos seus pais, mas como de uma namorada/esposa ao seu namorado/marido. Eu experimentei e é deveras engraçado.


Por Hugo M. Félix

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