A seguinte crónica foi escrita num Teste de Avaliação Sumativa da Expressão Escrita no âmbito da disciplina de Português de 11º Ano; no dia 31 de Janeiro de 2011. O teste apresentava o seguinte excerto de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".
E apresentava, seguidamente, uma proposta do género:
Elabora um texto argumentativo com base neste escerto do poema de Sophia de Mello Breyner em que o relacione com o Sermão de Sto. António aos Peixes.
E assim elaborei:
«Muita entropia nos planos para uma utopia»
Para já, este país nunca há-de ir para a frente, mas é um caso perdido. Todavia, outros países têm a oportunidade nas mãos. Têm é mãos de manteiga. Como podemos viver em Democracia, se as figuras que colocamos em pedestais, e outros que trepam para o mesmo fim, encavalitados nas costas do proletariado, se alimentam à nossa custa?
Branqueamento de capitais, desvios de fundos, corrupção activa e passiva, envolvendo indivíduos com poder legislativo: é isto Democracia?
O dinheiro, ganho por milhões de portugueses, fruto do seu suor, do seu trabalho, manipulado pelos directores executivos dos bancos para ser transformado em iates, carros e casarões: é isto Democracia?
“Jobs for the boys”, a cabeça do polvo legislativo, dominando tudo e apertando, com o tentáculo, o pescoço dos tribunais: é isto Democracia?
Meu Deus, fosse hoje vivo Padre António Vieira, e dava-lhe um ataque de coração. O trabalhador não precisa de dinheiro. O trabalhador precisa de um sermão como o de “Sto. António aos peixes”. Muito bem aplicado foi este sermão na sua altura, ex-aequo como seria na actualidade. Claro que o indivíduo que vive “à pala” do subsídio de desemprego, quando está de perfeita condição para trabalhar, também come ao Estado, contudo, não se compara com o que o Estado come ao trabalhador. Aumento do preço da gasolina quando o preço do barril do petróleo baixou? Muito troçou de mim o meu pai quando lhe dizia, em pequeno, que um dia o preço da gasolina ia ultrapassar o euro e meio por litro…
O português deve ser, indubitavelmente, do povo mais suculento da Terra. Quando Padre António Vieira referiu que repudiava que os peixes maiores comessem os mais pequenos, e Sophia de Mello Breyner escreveu que está errado ganhar o pão à custa do suor dos outros, não estavam certamente sobre o efeito de drogas. Muito o Governo se alimenta do trabalho do povo. Tanta e tanta busca por uma utopia pelo homem que, sem a devida lanterna, só acaba por encontrar entropia…
Por Hugo M. Félix
Segunda-feira, 30 de Abril de 2012.
Relembrem-se de quando escrevi que meu pai gozava comigo porque dizia que a gasolina ia passar o euro e meio. Já passou mais ou menos um ano, a gasolina já ultrapassou 1,80€. Portugal, na vanguarda da roubalheira.
Por Hugo M. Félix