"Muita entropia nos planos para uma utopia"

Quinta-feira, 24 de Fevereiro de 2011, 22h e 30min

A seguinte crónica foi escrita num Teste de Avaliação Sumativa da Expressão Escrita no âmbito da disciplina de Português de 11º Ano; no dia 31 de Janeiro de 2011. O teste apresentava o seguinte excerto de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".


E apresentava, seguidamente, uma proposta do género:

Elabora um texto argumentativo com base neste escerto do poema de Sophia de Mello Breyner em que o relacione com o Sermão de Sto. António aos Peixes.

E assim elaborei:



«Muita entropia nos planos para uma utopia»

Estes versos são verdadeiramente um símbolo do quotidiano e da vida do Homem, principalmente, da cidade. Uma utopia está, de facto, muito longe, e continuando a existir pessoas que vivem à custa do trabalho dos outros, este país, ou outro qualquer, não poderá ir para a frente.

Para já, este país nunca há-de ir para a frente, mas é um caso perdido. Todavia, outros países têm a oportunidade nas mãos. Têm é mãos de manteiga. Como podemos viver em Democracia, se as figuras que colocamos em pedestais, e outros que trepam para o mesmo fim, encavalitados nas costas do proletariado, se alimentam à nossa custa?

Branqueamento de capitais, desvios de fundos, corrupção activa e passiva, envolvendo indivíduos com poder legislativo: é isto Democracia?
O dinheiro, ganho por milhões de portugueses, fruto do seu suor, do seu trabalho, manipulado pelos directores executivos dos bancos para ser transformado em iates, carros e casarões: é isto Democracia?
Jobs for the boys”, a cabeça do polvo legislativo, dominando tudo e apertando, com o tentáculo, o pescoço dos tribunais: é isto Democracia?

Meu Deus, fosse hoje vivo Padre António Vieira, e dava-lhe um ataque de coração. O trabalhador não precisa de dinheiro. O trabalhador precisa de um sermão como o de “Sto. António aos peixes”. Muito bem aplicado foi este sermão na sua altura, ex-aequo como seria na actualidade. Claro que o indivíduo que vive “à pala” do subsídio de desemprego, quando está de perfeita condição para trabalhar, também come ao Estado, contudo, não se compara com o que o Estado come ao trabalhador. Aumento do preço da gasolina quando o preço do barril do petróleo baixou? Muito troçou de mim o meu pai quando lhe dizia, em pequeno, que um dia o preço da gasolina ia ultrapassar o euro e meio por litro…

O português deve ser, indubitavelmente, do povo mais suculento da Terra. Quando Padre António Vieira referiu que repudiava que os peixes maiores comessem os mais pequenos, e Sophia de Mello Breyner escreveu que está errado ganhar o pão à custa do suor dos outros, não estavam certamente sobre o efeito de drogas. Muito o Governo se alimenta do trabalho do povo. Tanta e tanta busca por uma utopia pelo homem que, sem a devida lanterna, só acaba por encontrar entropia…

Por Hugo M. Félix




Segunda-feira, 30 de Abril de 2012.


Relembrem-se de quando escrevi que meu pai gozava comigo porque dizia que a gasolina ia passar o euro e meio. Já passou mais ou menos um ano, a gasolina já ultrapassou 1,80€. Portugal, na vanguarda da roubalheira.


Por Hugo M. Félix