"Trocamos o seu rádio do carro por dinheiro!"

Quarta-feira, 6 de junho de 2012, 00h49min



Não é segredo para ninguém que as lojas de troca de ouro usado por dinheiro são o mais recente fenómeno do mundo urbano. Ao que se pôde apurar, aparecem por geração espontânea, por vezes mais que uma vez em cada rua de uma cidade - são o novo chinês.

Já fazia falta uma boa competição saudável a esta já conhecida “erva daninha”, mas esta expansão não menospreza os feitos dos chineses que abrem lojas como se abrem minis num Europeu de futebol.
São bastante referidas as desvantagens dos chineses e dos seus produtos, contudo as lojas de troca de ouro por dinheiro só trazem vantagens. Primeiro, são de fácil acesso, basta sair à rua e escolher qual das três ou quatro tem a montra mais bonita. Em segundo lugar torna-se muito menos árdua a tarefa dos assaltantes de encontrar um sítio onde possam vender a pulseira que acabam de requisitar de uma idosa transeunte. E resumindo, em terceiro, revoluciona por completo o conceito de ladroagem.

Senão vejamos, um indivíduo (que aqui pode ser representado por um jovem de etnia negra, para não criar preconceitos) vai a passear na rua quando encontra uma senhora de meia-idade e lhe rouba o colar de ouro por esticão enquanto o resto dos presentes desempenham o papel de espectadores num jardim zoológico – fascinados com o que vêem, mas sem coragem para ir implicar com o bicho. De seguida, perguntando-se pelo que fazer ao colar, olha para a direita e vê que está à porta de uma loja “Valores”. Dirige-se a um balcão e diz que quer vender o colar. O senhor que o atende, ao reparar, após minuciosa avaliação do colar, que este vale cerca de 80, 100 euros, diz que o troca por 30. Depois de explicar que é por ser usado e porque o oxigénio causa uma alergia nas moléculas de ouro do ouro, ou outra explicação cientificamente compreensível, o individuo lá aceita e troca o colar pelas notas. Mete-as ao bolso, estende a navalha e diz: “Agora dá-me também o colar.”.

Isto incentiva a quê?

Ainda no outro dia estava a passar numa rua com 3(!) lojas dos chineses, curiosamente paralela a outra com 3 lojas de troca de ouro por dinheiro (uma espécie de frente de batalha, talvez), estando estas dos chineses completamente munidas de montras com lâminas de barbear capazes da “adopção das importações alta resistência razor lâmina de aço inoxidável, ultima longa e aguçada, super graves”, até porque, homem que se preze, necessita de uma lâmina com graves de qualidade, e reparei numa  loja onde anunciavam que, e cito: “Trocamos o seu telemóvel velho por dinheiro!”.

Acho isto maravilhoso. Proponho até, como futuras jogadas de marketing, a abertura de lojas onde se trocam rádios do carro, carteiras, televisões, e, quem sabe, vidro de montras por dinheiro.
Isto tudo não podia ser melhor resumido do que pela sabedoria popular em relação à mudança de governo – mudam-se as moscas, mas a merda é a mesma.

Ainda ontem Passos Coelho anunciou que já não estamos à beira do abismo e tem toda a razão. Nós já caímos no abismo. Resta-nos bater no fundo.


Por Hugo M. Félix


Escrito segundo o antigo acordo ortográfico.

1 comentário:

  1. A tua capacidade de escrita esta cada vez melhor! Adorei! Como sempre!
    A tua fã nº -1 xD ;)

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